• Crise da Masculinidade –   6 Dilemas do Homem Moderno
  • Crise da Masculinidade –


    6 Dilemas do Homem Moderno


    – É estranho se eu gozar na cara dela?

    Essa pergunta veio de um jovem de 28 anos, empreendedor e bem sucedido. Diante do meu estranhamento ele respondeu: “Ela pediu!”, sem imaginar que o que eu tinha achado estranho era sua dúvida, e não o pedido dela.

    Essa é apenas uma das diversas questões que ouço no meu consultório de psicologia, vinda de homens angustiados que não têm com quem compartilhar seus dilemas de viver em uma sociedade sem saber direito qual lugar ocupar no mundo. Nos tempos modernos, a mulher se esparramou no seu espaço e o homem se encolheu no canto da sala. Eles, que antes tinham que se preocupar somente com contas, com o dia do futebol ou com a amante, hoje se vêem colocados contra a parede diante de uma realidade em que as mulheres reivindicaram seus direitos, fazendo com que, por pura questão de sobrevivência, tenhamos que nos questionar sobre conceitos até então desnecessários. Eis alguns deles:

    Dilema 1: Cafajeste ou bom moço? 

    Há 50 anos esse não era um dilema. A cafajestagem era uma arte comum, já que a mulher era completamente submetida às vontades masculinas. Questionar sobre possíveis amantes era privilégio das mais ousadas e corajosas. Hoje, no entanto, se homem quiser ter algo com alguma mulher, precisa passar no teste da fidelidade – sem exclusividade, a grande maioria delas não querem nem perder tempo. E é aí que instaura-se uma das tragédias do cafajeste moderno – não poder ser cafajeste. O homem fiel se contorce, pois no fundo quer ser cafajeste.

    Aprender a lidar com as contradições dentro de um relacionamento sem buscar subterfúgios é tarefa para homens maduros ou covardes. O homem de antigamente era treinado para escapar pela tangente, mas hoje ele é pressionado a querer e esperar algo mais de si mesmo. Bom mocismo exagerado também não cabe, afinal ser molenga, passivo e carente afasta as mulheres e inspira um comportamento maternal por parte delas que resulta em frieza na cama e pouca admiração.

    Como sustentar o ímpeto e o vigor do cafajeste com os princípios e resistência do bom moço?

    Dilema 2: Dinheiro ou felicidade?

    Nos tempos antigos, o dinheiro cumpria uma função afetiva de proteção ao bancar uma mulher – ela era dependente do marido, e retribuía seu sustento cuidando da casa, dos filhos e esquentando a barriga no fogão. Nos dias de hoje em que mulheres ganham mais do que suficiente para pagar pelo que consomem,  dinheiro virou perfumaria.  Se antes era mais difícil ganhar dinheiro pela falta de oportunidades, hoje a facilidade de atingir patamares de riqueza trouxe mais um dilema para a vida do homem – agora que já pode ser rico o dinheiro é o suficiente?

    Fórmulas para ganhar dinheiro cresceram aos montes e centenas de livros e cursos são lançados garantindo métodos de enriquecimento fácil, mas curiosamente o lançamento de livros que prometem felicidade também cresceu. Isso é reflexo desse dilema, o dinheiro garante o bem-estar? A realidade que existe é de uma quantidade significativa de jovens bem sucedidos, com dinheiro, que se tornam existencialmente entediados, apesar da vida de luxo.

    Pesquisas de Martin Seligman da Psicologia Positiva  mostram que o nível de felicidade e de bem-estar não aumenta necessariamente conforme os bolsos se enchem. Assim como conseguimos nos adaptar às situações mais tensas, nos adaptamos também à mudanças positivas. Ou seja – nossas mentes se adaptam e se acostumam com a riqueza, o que impõe uma séria restrição à idéia de que dinheiro traz necessariamente felicidade. Percebemos, então, que o poder que o dinheiro proporciona não alivia, mas aprofunda a nossa angústia milenar: a de perder aquilo que conquistamos ou do desafio constante de criar uma vida com riqueza e ao mesmo tempo cheia de real significado.

    Dilema 3: Bom de cama ou bom de papo?

     

    Nos dias de hoje, o homem que quer ser um bom partido de verdade, precisa ser sensível aos sentimentos femininos. Acontece que isso causou um nó na mente de alguns homens que passaram a encaram sensibilidade com passividade sexual.

    O homem brasileiro adora sustentar a fama de ser um comedor nato. Tremenda mentira, pois ele é tão inibido, inseguro, preconceituoso sexualmente como outros povos. Grande parte dos homens não gosta de falar sobre sua sexualidade e, ao serem questionados mais a fundo sobre ela, se sentem desconfortáveis. Prova disso é que a exigência atual de alta performance sexual colocou um dedo na ferida masculina: sua potência sexual. O que atestava antigamente a masculinidade era a coragem heróica nas batalhas por território ou sua luta por ideais filosóficos e sociais. Hoje, o que atesta a potência de um homem é sua performance sexual.

    Pergunte para sua avó sobre o desempenho sexual do vovô: sexo rápido, banalizado e sem nenhum envolvimento real. O que os mais velhos afirmam ser sinal de macheza, me parece pura insegurança, afinal transar com mulheres virgens, inexperientes, cheias de pudores e medo de abandono colocava o homem em posição de vantagem sexual. Ele era o único termômetro da relação, a ela só cabia concordar.

    O mercado de estimulantes sexuais e remédios para impotência denunciam um homem que arrota vantagens no bar, mas que passa apertos ou broxadas na vida íntima. A realidade urbana cheia de tensão, ansiedade, narcisismo e fixação mental (grana, desempenho e status)  não combina com pau duro. Você vê um homem viril ali?

    No consultório os homens falam sobre suas inseguranças sexuais e sobre seus sonhos como seres humanos e chegam numa constatação inédita: o sexo começa com uma mente desprendida e feliz. O corpo só acompanha o ritmo. Certos homens se escondem num papo cabeça para não revelar o medo de lidar com a própria brutalidade dos seus desejos. Apegam-se a um discurso sensível e cheio de romantismo por receio de parecer grosseiro ou egoísta frente à mulher e pagam um preço alto por isso.

    É possível atingir a mistura exata e a gentileza do homem sensível com a pegada do cafajeste, bom na cama e fora dela?

    Dilema 4: Liberdade ou convenção social? 

    O homem de hoje tem infinitamente mais possibilidades de aproveitar sua liberdade. Viagens inusitadas, passeios exóticos, gastronomia multicultural, esportes radicais e mulheres de todos os tipos regadas a bebidas variadas.

    O que levaria esse homem a casar e ter filhos?

    Na cabeça dos homens é comum achar que a vida num relacionamento estável implica na perda de individualidade e liberdade, e que terão que abrir mão de um universo de experiências incríveis por uma dose de rotina maçante e sufocante ao lado de uma só mulher. O modelo tradicional de casamento para a “vida inteira” angustia um homem de 25 a trinta e cinco anos que tem uma perspectiva de vida de mais cinquenta anos pela frente.

    Para muitos o casamento deveria ter muitas recompensas para que se fizesse um sacrifício tão grande e para isso os modelos tem sido cada vez mais variados. Para sustentar a longa jornada surgiu uma quantidade crescente de informações, cursos e livros que falam sobre como apimentar e amadurecer uma relação feliz. Outra corrente segue na linha de respeitar a individualidade numa vida de solteiro convicto ou casado com espaços bem delimitados.

    Parece que o casamento se tornou o único critério que reafirma se uma pessoa é livre ou não, como se a liberdade fosse patrimônio exclusivo de algum estado civil. O estranho é ver os casados invejar os solteiros e os solteiros olham com suspeita para os casados. Seria o problema o casamento ou a maneira que a ideia de liberdade é experimentada?

    Dilema 5: A minha opinião ou a dela?

    Quem dá a última palavra em casa? O homem responde, “Eu, é claro! Sempre digo: sim, minha querida, você tem toda a razão!”

    Dados da Organização Mundial da Saúde  mostram que em vários países no mundo a violência contra a mulher chega a ser em até 69% causada por seus parceiros sexuais. Esse fenômeno surreal pode revelar um fator de desajuste do homem na recente cultura de valorização do feminino: ele se ressente do novo poder conquistado pelas mulheres. Como fruto desse ressentimento velado as castiga física e/ou psicologicamente, já que não pode fazê-lo (como antigamente) financeiramente.

    Na vida cotidiana é comum a disputa “imperceptível” entre homens e mulheres pela última palavra. Quem não lembra do Capitão Nascimento, no filme Tropa de Elite 1, exigindo esse espaço na cena clássica em que esbraveja com sua mulher sua posição soberana na casa:

    O excesso de brutalidade nos mostra a profunda insegurança (mascarada de crueldade) do homem acuado dos dias de hoje.

    Repare um homem no bar com os amigos ao receber uma ligação da namorada ou da esposa. A reação é quase unânime e até ridícula – ele abaixa o tom de voz, regride aos 5 anos de idade e se desculpa  em meio a sorrisos desajeitados, suor no rosto e gentilezas sussurradas. Na maioria das vezes, corre para o banheiro e mente dizendo que o trabalho se estendeu. O que se vê ali é medo. Medo da sua mulher.

    Se ele assume uma postura impositiva é um machista dominador e arrogante, se se submete é um banana sem personalidade. A esse homem pós-moderno, cabe em muitas vezes a culpa e o silêncio condenado. Será que as únicas maneiras de conduzir um relacionamento são abertas (ao exagero), dominadoras ou submissas.

     Isso tudo quer dizer que…

    Uma dedução equivocada que se pode tirar desses dilemas é que a culpa é da mulher. Mas isso é resultado de uma movimentação social que não é orquestrada por nenhuma organização secreta que visa dominar o mundo. E seja qual o for o dilema, ele não tem fácil solução (deveria?) porque as mudanças no universo feminino continuam constantes e crescentes. E como a dança dos sexos continua sem passos definidos, até agora o homem oferece a si mesmo um deprimente, hesitante e vergonhoso veredicto mascarado de força: sou homem. O que é ser homem hoje em dia? Sexto dilema…

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