• O Quanto É Preciso Dizer “Eu Te Amo”
  • O Quanto É Preciso Dizer “Eu Te Amo”


    Tem sempre aquele momento em que o “eu te amo” parece não dar mais conta do recado. Ele, no entanto, até um certo período da vida, cumpre maestralmente seu papel. Lembro-me claramente da primeira vez que pronunciei as três palavras que mais significam na vida – aquelas que todo mundo sempre busca ouvir. A gente estava naquela fase de início de namoro em que tinha que se lidar com a sensação de, de um dia para o outro, ver aquele ser como seu namorado. Ele mesmo, que até momentos antes do “eu não queria mais dividir você com ninguém”, era apenas mais uma pessoa, daquelas que fazem o coração bater mais rápido e que fazem surgir estranhamente uma rebordose no estômago momentos antes de encontrá-la. De repente, decide-se fazer um pacto com aquele ser – o “namora comigo” cria um laço, invisível, frágil, a nossa garantia que nada garante.

    Passaram-se alguns dias desde a oficialização que nos transformava de duas pessoas que curtem trocar ideias e fluidos, para um novo casal com acordos e trocas. E aquele amor que surgia e que ia ganhando forma dentro de mim, queria sair. Eu já não sabia mais se os beijos apaixonados, os abraços de quebrar costela, as ligações para ver se você chegou bem, o brilho nos olhos e os cafés na cama simbolizavam todo aquele amor que crescia tanto dentro de mim e que precisava ser externalizado. A ingenuidade era tanta, que me fazia acreditar que o eu te amo saindo da boca traduziria tudo aquilo que surgia por dentro. Mas na hora de pronunciá-las pela primeira vez, as três simples palavras eu-te-amo, pareciam se perder na ponta da língua. Facilitei, então, o processo – encomendei no seu aniversário, uma caixa de chocolates no qual poderia pedir que gravassem uma letra em cada pedaço – não hesitei. Falei que te amava, pela primeira vez, da forma mais doce que conseguia – através de uma caixa de chocolate.

    Depois do primeiro eu te amo, os outros vieram facinho – saiam leve da boca, sempre que batia aquela vontade. Acontece que, depois de um certo tempo e do amor que cresceu durante os longos dias de parceria, as palavras estampadas no chocolate pareciam mais não dar conta do tamanho do sentimento. O eu te amo que um dia pareceu traduzir exatamente o que acontecia por dentro do peito, pareceu ficar pequeno demais para descrever os sentimentos. E então, surge a dúvida – como fazer quando o amor não cabe mais nas palavras?

    Nós humanos, somos os únicos seres com o dom da palavra. Conseguimos expressar a grande maioria das coisas através delas. Confiamos tanto nas palavras, que fomos subestimando os poderes dos nossos sentidos. Esquecemos que somos seres feitos de energia. No reino animal, ninguém fala, mas todos os seres entendem completamente o que o outro quer dizer. Repare dois cachorros juntos – um deles será sempre o dominante e ditará o funcionamento das coisas – ele mostra o que quer, não com latidos, mas com a energia do corpo. Com orelhas em pé, rabo levantado, cabeça erguida e uma energia poderosa, ele direciona, sem precisar soltar nenhum som. Tem também a história dos pássaros – o chamado Zé do Lenço, constrói uma casinha com peninhas brancas para sua amada. Quando pronta, ela se aproxima, observa, analisa. Se não gosta, parte, e ele continua seu trabalho até que a casa fique de bom grado para a donzela. Tudo isso acontece sem piados ou cantos – a mensagem é passada através da energia.

    No entanto, nós, seres humanos, perdemos as sutilezas das outras formas de comunicação e nos prendemos as palavras. Bem a elas, que mentem, que distorcem. Palavras são essenciais, mas elas são apenas códigos, como tantos outros, que podem ser manipulados. Eu posso dizer a qualquer pessoa que o amo, o desafio é demonstrar o sentimento além do pronunciável. Palavras são soluções rápidas, fáceis, superficiais. Um eu te amo não convence, se o beijo que o segue não é apaixonado. Ou se o carinho não é intenso, daqueles motivados por uma vontade de dentro. Ou se o olho não brilha, apenas faísca, da mesma forma que faiscaria diante de uma roupa nova. Palavra nenhuma convence se, energeticamente, você não age de acordo com elas. E se você, em sua santa ingenuidade, duvida que é um ser feito de energia, te mostro aqui uma prova – num quarto escuro, apenas regado por um feixe de luz, coloque suas mãos horizontalmente frente a outra, de um modo que a ponta do seu dedo indicador da mão direita fique de frente para a ponta do seu dedo indicador da mão esquerda, e assim por diante. Deixe um espaço de uns 5 centímetros entre os dedos e os mova, para cima e para baixo – pasme-se ao perceber as linhas de energia se movendo. Outra prova, é quando encontramos com alguém e ficamos com aquela sensação de que “algo não bateu”. Esse algo, nada mais é que sua energia te dizendo que não é compatível com a energia da outra pessoa. Mantenha a distância, se puder.

    Se a existência da energia é irrefutável, e se as palavras se provaram mentirosas, talvez deveríamos nos apegar mais ao invisível do que ao concreto. Ouvir eu te amo é delicioso, mas não devemos valorizá-lo mais do que o beijo na testa, o cuidado quando se está doente, a carona no dia de chuva e de greve do metrô, o almoço feito especialmente pensando no outro, o abraço forte que conecta os 2 corações, o beijo que, dependendo dos movimentos e da intensidade, explica se sua intenção é carinho ou um convite ao sexo. Talvez, a prova de amor que tanto buscamos, esteja escondida nos detalhes, nas sutilezas, naquilo que poucos vêem. A riqueza do sentimento se mostra somente para aqueles que estão com seus sentidos abertos – aqueles que enxergam vendo, que ouvem escutando, que tocam sentindo. Para os que ignoram o poder das mensagens sutis e que se concentram somente na obviedade das palavras, resta-lhes somente o genérico. Esses, infelizmente, jamais serão capazes de sentir o poder do amor saindo pelos poros da pele.

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